Futuro magistrado relata desafios até aprovação em entrevista ao Migalhas sobre Concurso Público Nacional.
No próximo sábado, 27, a Justiça do Trabalho terá um momento significativo de reconhecimento. O juiz do Trabalho Márcio Aparecido da Cruz Germano será empossado – o primeiro magistrado com deficiência visual a atuar na 1ª instância trabalhista no Brasil.
Esse marco na Justiça Laboral representa um avanço importante para a Justiça Trabalhista brasileira, demonstrando a importância da diversidade e inclusão no ambiente jurídico. A atuação de Márcio Aparecido da Cruz Germano destaca a necessidade de promover igualdade de oportunidades para todos os profissionais, independentemente de suas limitações físicas.
Justiça do Trabalho: Uma Jornada de Superação e Inclusão
Márcio, um profissional de 44 anos, natural de Maringá/PR, possui uma trajetória marcada por importantes marcos de inclusão na Justiça Laboral. Sua carreira teve início como técnico judiciário na Justiça Federal e posteriormente como analista judiciário no TRT da 9ª região, desempenhando suas funções no gabinete do desembargador Ricardo Tadeu Marques da Fonseca, que, vale ressaltar, é cego.
Recentemente, Márcio obteve êxito no II CNU – Concurso Público Nacional, consolidando sua aprovação para ingresso na carreira da magistratura do Trabalho. Em breve, ele assumirá sua nova posição em São Paulo, demonstrando que a Justiça Trabalhista é um campo de oportunidades para aqueles determinados a superar desafios.
Em uma entrevista exclusiva ao Migalhas, o futuro magistrado compartilhou sua emocionante história de perda progressiva da visão, ocorrida na infância, e os obstáculos enfrentados devido à falta de acessibilidade e inclusão. Márcio destacou a importância de uma infraestrutura mais inclusiva e acessível em todos os níveis da sociedade, ressaltando a necessidade de promover a igualdade de condições para todos os profissionais, independentemente de suas limitações.
Ao longo de sua jornada, Márcio enfrentou desafios significativos, desde a falta de material escolar em braile durante seus anos de estudo até a necessidade de contar com a ajuda de colegas para acessar os conteúdos acadêmicos. No entanto, com a evolução da tecnologia e o apoio de equipamentos especializados, como leitores de telas e livros digitais acessíveis, o futuro magistrado conseguiu se preparar adequadamente para os concursos que o levariam a novas conquistas em sua carreira.
Em 2005, Márcio deu início à sua jornada como técnico judiciário, e em 2011, foi aprovado como analista judiciário, acumulando 12 anos de experiência no TRT da 9ª região, onde colaborou ativamente na elaboração de minutas de votos para o desembargador Ricardo Tadeu. Agora, em 2024, ele aguarda ansiosamente sua nomeação como juiz, um marco significativo em sua trajetória profissional.
Um dos momentos mais marcantes para Márcio foi a prova oral do CNU, onde finalmente sentiu que competia em igualdade de condições com os demais candidatos. A acessibilidade e acolhida que encontrou durante o concurso não apenas facilitaram seu processo, mas também fortaleceram sua determinação em alcançar seus objetivos na Justiça Trabalhista.
Atualmente, na Justiça do Trabalho, apenas dois magistrados com deficiência visual atuam em 2º grau: o desembargador Ricardo Tadeu e o desembargador Marco Antônio Paulinelli de Carvalho, do TRT de Minas Gerais. A presença desses profissionais destaca a importância da diversidade e inclusão no ambiente judiciário, evidenciando que as barreiras podem ser superadas com determinação e apoio adequado.
A história inspiradora de Márcio não apenas abre caminho para mais oportunidades para pessoas com deficiência no serviço público brasileiro, mas também ressalta a necessidade contínua de promover uma cultura de inclusão e acessibilidade em todas as esferas da sociedade. A Justiça do Trabalho, com seus valores de equidade e justiça, é um espaço onde a diversidade é não apenas bem-vinda, mas fundamental para a construção de um ambiente mais justo e igualitário para todos.
Fonte: © Migalhas
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