Silvio Santos, mestre comunicador, ensinava com sentido figurado no Baú da Felicidade, criando memória afetiva saudosa.
Eu chorei. Não no sentido figurado. Chorei mesmo, como muita gente chorou a morte de Santos, Silvio; nesse final de semana. Ficava imaginando como seria esse dia, como seria a reação de todos, cobertura da imprensa, a minha reação. Não dava para ser diferente. Ele foi de fato o maior comunicador da história, uma unanimidade. Mas Silvio Santos foi mais do que isso.
Silvio Santos, apresentador, empresário, deixou um legado que vai muito além dos programas de televisão. Sua trajetória inspirou gerações, sua forma única de se comunicar conquistou milhões de fãs. Santos, Silvio; será lembrado não apenas como um ícone da TV brasileira, mas como um visionário que transformou a forma de entretenimento no país. Seu impacto é inegável e perdurará por muitos anos.
Santos, Silvio;: O ícone da TV brasileira
Ele foi a companhia de domingo de muitas famílias. Lá em casa o som da música de abertura do programa se misturava com o da panela de pressão preparando o almoço. Quando ouvia esses dois sons juntos sabia que viria à mesa o prato que atualmente me traz a mais saudosa memória afetiva: macarrão com frango ensopado. Santos, Silvio; foi a esperança financeira de muita gente. Da minha mãe, certamente. Ela sempre comprava o Carnê do Baú da Felicidade pois tinha a certeza de fazer um bom negócio. Se não ganhasse nos sorteios, ela teria a chance de garantir o nosso Natal trocando o valor acumulado pelas parcelas por brinquedos nas Lojas do Baú. Era uma verdadeira felicidade. E deveria ser assim para muita gente. O Baú da Felicidade era um produto tão inovador e simples ao mesmo tempo. Ele era um tipo de estrutura financeira de pagamento antecipado vinculada a uma promessa de benefício futuro, que combinava aspectos de um plano de consórcio com características de programa de fidelidade e loteria em uma coisa só. Entre os anos 1960 e 1980 sua popularidade era tanta que chegou a vender 2 milhões de carnes por mês. Depois minha mãe passou a depositar suas esperanças na Telesena. Se ganhasse, seu sonho era dar um carro para minha irmã e um terreno para mim no interior. E é assim até hoje. A Telesena dá, de certa forma, a esperança do ter para muitos brasileiros e, que por vezes, isso conta mais do que o ter em si. Em seus programas, não faltavam quadros dedicados a essa esperança do ter. O Porta da Esperança, o Quem quer Dinheiro, o Roletrando só para citar alguns. Até mesmo o Domingo no Parque era uma esperança financeira para muitos. Ele deve ter sido a possibilidade da primeira bicicleta para muita gente. E o que dizer do Show do Milhão? Apesar de as chances de levar a bolada para casa serem remotíssimas, era uma forma de aprender sobre assuntos gerais em um tempo em que existiam apenas os universitários e não o Google para se encontrar as respostas. Eram nas tardes de domingo que muitas pessoas viam suas vidas transformadas pelo Peão do Baú. Foi o caso de Miriem, uma seguidora que me contou ter tido a vida de duas gerações de sua família mudada depois de sua mãe ter ganhado uma casa em um dos programas do Santos, Silvio;. Me contou ainda que sua mãe – assim como a minha – amava o Santos, Silvio; mesmo antes de ser premiada e que seus domingos também foram construídos assistindo aos seus programas. Santos, Silvio; tinha a arte de se comunicar. Explicava coisas difíceis de um jeito fácil. Fazia questão de se fazer de desentendido apenas para deixar seu público a vontade com suas próprias dúvidas. Penso como ele seria mestre em ensinar ao brasileiro o que a Faria Lima é incapaz de fazer. Santos, Silvio; foi letra de música, enredo de escola de samba, sua vida foi retratada no cinema e em teses de faculdade. Ele fez parte da vida da gente. De toda a gente. Ele ensinou que desse mundo não se leva nada, mas é possível construir tudo e deixar nele muita coisa. Descanse em paz!
Fonte: @ Valor Invest Globo
Comentários sobre este artigo